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A Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril dirigiu a dez companhias de teatro históricas um convite para apresentarem uma criação artística ou reposição que contribua para a consciência pública do papel que o teatro desempenhou na transição democrática.

Foram selecionadas companhias de teatro com atividade no período da Revolução e que nasceram ou se consolidaram nesse período: Companhia de Teatro de Almada; A Barraca; O Bando; Centro Dramático de Évora; Comuna – Teatro de Pesquisa; Novo Grupo de Teatro – Teatro Aberto; Seiva Trupe – Teatro Vivo; Teatro de Animação de Setúbal; Teatro Experimental de Cascais; e Teatro Experimental do Porto.

Os projetos foram avaliados pela Direção-Geral das Artes (DGARTES) e serão executados até 2025. Acompanhe os espetáculos através da Agenda 25.04.

Este espetáculo, de Maria do Céu Guerra e de Hélder Mateus da Costa, aprofunda as mudanças na vida, nas mentalidades, nas ambições, na evolução cultural, social e económica da mulher portuguesa.

Essa enorme vitória portuguesa que foi o 25 de Abril de 74 é realçada como o acontecimento que permitiu à Mulher Portuguesa começar a partilhar o centro da História e obriga a uma reflexão sobre o feminino, sobre onde ele já chegou e o que tem para andar. Longe de ser um elogio, este espetáculo será mais um alerta sobre a fragilidade das nossas conquistas e o quanto as devemos defender.

A partir de textos de Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno, Leonor de Almeida, Natália Correia, Maria Carlota Álvares da Guerra, Maria Antónia Palla, Hélia Correia, Maria de Lourdes Pintassilgo, Maria Lamas, Eduarda Dionísio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bocage, Cláudia Clemente, Patrícia Portela, Adília Lopes, Alexandra Lucas Coelho, Margarida Vale de Gato, Ana Paula Inácio. Com músicas de Zeca Afonso, Francisco Fanhais, Beethoven, António Vitorino D’Almeida, Amélia Muge, Carolina Deslandes.

Criada a partir da obra de António Lobo Antunes, esta peça tem seleção de textos e dramaturgia de Pierre-Etienne Heymann e Direção de Gil Salgueiro Nave e José Russo. Sobe a cena um painel de personagens desenhados pela poética e perspicácia de Lobo Antunes, para confrontar o público com um conjunto de olhares e inquietações sobre esses acontecimentos que transformaram profundamente a vida do povo português.

O espetáculo propõe os relatos cruzados de diferentes personagens: um operário carregador de mudanças, um empregado de escritório militante maoista, uma camponesa explorada numa Quinta, uma burguesa caridosa e um dono de empresas. Cada um recorda o seu 25 de Abril e conta o que sucedeu com ele. Desta confrontação nascem, por certo, perguntas inevitáveis com o andar do tempo e à luz da fervura que sacode o país atualmente.

Com a Revolução de Abril, não foi conquistada apenas a liberdade e a democracia política, criaram-se também condições para notáveis avanços civilizacionais que hoje estão a ser profundamente delapidados.

Os textos de António Lobo Antunes foram objeto de um primeiro espetáculo, em 2004, e de uma segunda abordagem, em 2014, numa parceria do Cendrev com a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve. Ambos os projetos contaram com dramaturgia e direção de Pierre-Étienne Heymann.

Peça com textos de António Cabrita, Jacinto Lucas Pires, Patrícia Portela e Rui Cardoso Martins, música de Martim Sousa Tavares e encenação de Teresa Gafeira.

Um espetáculo sobre 25 de Abril de 74, óbvio em 2024. Menos óbvio é como pegar nisso. O que dizer, como dizer, a quem vamos dizer. O ator, em cena, deve sempre saber quem é o seu interlocutor, o espetáculo deve saber a quem se dirige. O ator, assim situado, verá brotar as palavras e os gestos com uma eficácia quase garantida sobre o interlocutor. Assim deveria ser com o espetáculo. A quem nos queremos dirigir? A quem viveu o antes de Abril, a quem viveu intensamente Abril, a quem Abril soa a uma coisa do antigamente? Diria que o público preferencial seria este último. E que dizer? Por mim, diria o que sempre digo: “Não sabem a sorte que tiveram em nascer depois do 25 de Abril”. E porquê? Porque havia a guerra, claro, porque havia a Pide, claro, porque não havia muita coisa. E porque havia uma coisa que é difícil explicar. Um mal-estar, uma ansiedade, uma apatia, o sentirmo-nos inúteis, sentirmos culpa, enfim, uma depressão coletiva? Ora como dizer isto, em teatro? E como dizer que, por muitas voltas que a História dê ou que nós dêmos à História, esta doença nunca mais foi a mesma desde esse dia de doidos, lunáticos, sonhadores?

Pedimos a cinco autores que nos ajudassem a dizê-lo. O resultado foi surpreendente. Cada um diz a coisa à sua maneira, o que era de esperar. E, graças ao 25 de Abril (e não a Deus), diz o que lhe apetece.

Peça com texto de António Torrado e encenação de João Mota, nunca apresentada em Portugal.

Se há contadores de eletricidade, contadores de água, contadores de gás, porque não há de haver também um contador de histórias, em forma de móvel com gavetas? O Contador da História! A história de um país com quase 900 anos de memórias para contar.

De quem vem do lado do mar é um retângulo ainda extenso, como um degrau de mármore à soleira da porta à entrada da Europa.

Imaginem que o contador retangular que temos à nossa frente representa o nosso país Portugal (continente e ilhas), e os Josés e Marias espalhados pelo Mundo, e a sua gastronomia, os seus vinhos, os seus doces, as festas, os seus autores, os grandes momentos de regozijo… e também de tristeza… e mágoa…

Em jogo com a tragédia, a comédia, o naturalismo, o canto e a música, tentámos construir um espetáculo em que os grandes momentos da história de Portugal não são mais que uma grande representação em diversos estilos, desde a paródia à tristeza. Sete atores criando diversos papéis com essa grande alegria interior, quase sem tempo dentro do tempo desse grande jogo de cumplicidades com o público.

António Torrado quando, a pedido do então Presidente da República, Jorge Sampaio, escreveu este texto, socorreu-se dos seguintes autores: Fernando Pessoa, Gonçalo Anes Bandarra, Gil Vicente, Alfredo Pimenta, Suzanne Chantal, José Augusto França, João Duarte Fonseca, Luís de Camões. António Ferreira, Fernão Lopes, Zeca Afonso, José Mário Branco e Sophia de Mello Breyner Andresen.

Uma ópera a partir de Os Memoráveis de Lídia Jorge

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, será apresentada uma ópera original intitulada Por todos nós, com libreto de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos, a partir de o romance Os Memoráveis, de Lídia Jorge, com música de Eurico Carrapatoso, encenação de João Lourenço e direcção musical de João Paulo Santos.

Em Os Memoráveis (2014), a escritora Lídia Jorge revisita o 25 de Abril, os seus protagonistas e os mitos da Revolução a partir do olhar de três jovens que, 30 anos depois dos acontecimentos, procuram entender não só a pulsão revolucionária, mas também aquilo em que esta se tornou na construção da democracia e da sociedade em que agora se encontram. Desenrolando-se como uma investigação histórica, feita pela geração dos filhos que, apesar da distância imposta pelo tempo, está implicada numa rede de afectos com a geração precedente, a trama de Os Memoráveis oferece um conjunto de reflexões profundas sobre o 25 de Abril e as suas ressonâncias. A diversidade das perspectivas e a distância temporal permitem que se lance uma luz crítica sobre a História. Os vários discursos, a várias vozes, articulam-se numa construção polifónica. O tema da Revolução desenvolve-se em variações que expressam os momentos de consonância e dissonância, euforia e disforia, próprios de um tempo de mudança. Procura-se activar a memória do que significou o 25 de Abril de 1974 e resgatar a esperança daqueles dias como força inspiradora para a construção de um mundo melhor.

A estreia mundial da ópera Por todos nós ocorrerá no início de Dezembro de 2025 no Teatro Aberto, numa co-produção do Novo Grupo – Teatro Aberto com o Teatro Nacional de São Carlos, com a parceria institucional do Ministério da Cultura e da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril.

«LiberaLinda» é um cortejo teatral que convida o público a vivenciar um ideal de liberdade. Convoca as palavras de Natália Correia para procurar Abril fora dos palcos mais expectáveis: ao ar livre suspende os figurinos históricos do grupo; no foyer de cada teatro, escola ou museu projeta um documentário ou mergulha num vitral penetrável com imagens dos 48 anos de ditadura, guiados por três personagens saídas de diferentes espetáculos ao som de um xilofone que se toca com as notas da utopia e da Revolução.

O projeto «LiberaLinda» tenta abranger toda a complexidade histórica do período pré e pós-Revolucionário, e afirmar a palavra teatro como gesto artístico democrático que junta, agrega, constrói comunidade e que continua a sonhar com uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais livre. É uma viagem que inclui quatro paragens, com diferentes formatos, sendo o espectador livre de decidir como quer fazer o seu percurso. Essas paragens contemplam:

LiberaLinda – Intervenção teatral ao ar livre e que dá nome ao projeto. Com encenação de João Brites a partir do texto «Memórias de uma Tia Tonta», de Natália Correia, que foi a base da dramaturgia de «Crucificado (2009)». Além da Tia Tonta, representada pela atriz Susana Blazer, inclui outras duas personagens: Zé Povinho, personagem de Antónia Terrinha do espetáculo «Em Duelo (1986)»; e o Polícia Zacarias, representado por João Neca em «Do Contra (2015)». O elenco tocará um xilofone de grandes dimensões, construído para o espetáculo «Liberdade (1994)», de Sophia de Mello Breyner, aquando dos 20 anos do 25 de Abril, que compõe a cenografia juntamente com a estrutura traVessia25.

traVessia 25 – Exposição dos figurinos que marcaram o percurso do Teatro O Bando, suspensos ao ar livre, numa construção em picotas. Representam cinco décadas ancoradas em personagens que emergem dos textos de dezenas de escritores portugueses e que, ao ar livre, podem agora dialogar com as árvores e o espaço público onde se irão instalar.

oKupação – Projeção do Documentário vídeo realizado por Rui Simões, numa produção da Real Ficção a partir da ocupação teatral da redação da TSF no dia 24 de abril de 2014, no âmbito dos 40 anos da Revolução e do Teatro O Bando. Sob direção de João Brites, 24 atores, 16 músicos e dezenas de participantes entraram na redação armados de palavras e de música para proclamarem o direito à voz, à palavra, ao protesto e à livre manifestação, confundindo propositadamente a realidade da ficção com a realidade quotidiana.

madruGada – Instalação escultórica de um vitral com grandes slides alusivos aos 48 anos de ditadura. Aquando da celebração dos 25 anos dos 25 de Abril, dezenas de milhar de pessoas assistiram no Terreiro do Paço a Madrugada, um evento teatral em desfile com atores, músicos, cantores e atletas que atuaram no meio de camiões militares e de chaimites pintadas de branco. Projeções de grande escala de slides e vídeo pintavam as fachadas. Desse evento, serão recuperados centenas de slides que, imagem após imagem, atravessam a longa noite de 48 anos de obscurantismo e repressão, lembrando acontecimentos icónicos de 1926 até à Revolução dos Cravos.

Baseado no texto inédito «O Coro das Águas», reflete sobre o Portugal de opressão e escassez no Estado Novo até à ação libertadora das Forças Armadas e a alegria do processo popular da Revolução dos Cravos.

Numa primeira parte, a Avó (Lembranças), a Mãe (Silente) e a Filha (Esperança) vivem isoladas por um mar alterado, depois de os homens da aldeia terem desaparecido. Vivem ameaçadas por Sombra, um proibidor de certas palavras, enquanto noutro local, a Estranha (4.ª mulher) se debate com correntes e mordaças. Chama-se Abril.

Quando se liberta, anuncia a chegada da água à fonte e o mar afasta-se. Nascem cravos e conchas, voltam os homens. Numa segunda parte, depois da festa, desencontrando-se entre opiniões, Sombra reaparece. Elas fazem-lhe frente, marchando e convidando o público a se juntar.

50 anos após o 25 de Abril, interessa saber qual a situação das Artes. Foi-lhes conferido um estatuto, foi permitido falar, escrever, criar, sem medo da censura, do autoritarismo, da discriminação, da prisão e da tortura, da castração intelectual, da repressão, da imposição do silêncio. Rui Zink escreveu “Simplesmente Abril”, uma peça impossível de representar? Tal como era impossível a vida antes das conquistas de Abril. Uma sucessão de clichês que servem de mote ao conflito dramático, desenhando personagens que apontam o que se fez, o que ficou por fazer e o que ainda hoje é urgente preservar.

O Teatro Experimental de Cascais (TEC) revisita dois textos de grande importância na história da companhia, dos anos sessenta do século passado, ainda no período da censura, com João Vasco à frente do projeto, e acompanhado pelos atores Rita Calçada Bastos e Luís Lobão.

Do repertório apresentado pelo TEC durante a ditadura, talvez os textos do autor espanhol Fernando Arrabal «A oração e Os dois verdugos» sejam aqueles cuja aprovação censória poderá suscitar maior espanto e admiração. Desde logo pela reputação do autor, julgado e condenado pelo regime franquista em 1967, precisamente pela natureza comprometida da sua obra. Para além de ambas as peças terem sido classificadas para adultos (maiores de 17 anos), a licença de representação foi expressamente concedida “para ser apenas representada no Teatro Experimental de Cascais”.

Portugal, anos 70. Inspirados pelos movimentos revolucionários da época, jovens portugueses, burgueses, urbanos e letrados, decidem abandonar os seus estudos ou os seus primeiros empregos e rumam em direção às fábricas e aos campos para fazer a “revolução cultural”. Clandestinos, enquanto pregam a revolução, pegam em enxadas e manobram máquinas agrícolas e fabris. Na mala guardam o Germinal de Émile Zola, o Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung, o existencialismo de Jean-Paul Sartre e muita vontade de mudar o mundo.

Juventude, amor, revolução, libido e realidade confundem-se e misturam-se com disciplina, regras, capitalismo, clandestinidade e utopia. São jovens a tentar viver os seus melhores anos. A Tecedeira que lia Zola é o segundo espetáculo da Trilogia da Juventude do Teatro Experimental do Porto (TEP), cujas peças se centram, respetivamente, no Portugal dos anos 1950, 1970 e 1990. A primeira parte, «O Grande Tratado de Encenação», estreou na última Primavera no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery. A terceira parte, «Maioria Absoluta», em 2018.

A Exposição «Liberdade! Liberdade! A Revolução no Teatro» é uma iniciativa desenvolvida pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança (MNTD), com o apoio da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, e tem curadoria de Nuno Costa Moura. Irá itinerar pelo país, acompanhando a encenação destas peças.

Mostra diversas facetas da vida teatral antes, mas sobretudo após o 25 de Abril, destacando a capacidade criativa e o poder de adaptação perante um quotidiano altamente volátil e, por vezes, adverso para uma certa prática artística que olhou para a defesa da Democracia como um dever contínuo.

O período abordado situa-se entre 1972 e 1982, desde a publicação da legislação que estabeleceu as bases para a atividade teatral, que vigorou mesmo após o 25 de Abril, até à primeira revisão constitucional, que garantiu as condições para a adesão à Comunidade Económica Europeia.

O título da Exposição, «Liberdade! Liberdade!», é inspirado no espetáculo homónimo que estreou em Lisboa, em agosto de 1974, adaptado de um original brasileiro. A peça, uma colagem de textos e canções sobre a necessidade de defender e consolidar a Liberdade, foi encenada por Luís de Lima e interpretada por Lima, Maria do Céu Guerra e João Perry, com direção musical de José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias.

«Liberdade! Liberdade! A Revolução no Teatro» inaugurou a 4 de julho de 2024, no âmbito do Festival de Almada. Esteve patente até 18 de julho na Escola Básica D. António da Costa.

Fotografias de Cláudia Teixeira | Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril

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