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Do não à Ditadura e à Guerra Colonial ao sim à Liberdade!!

Nascido em 1952, natural de Lisboa, Portugal.


Do não à Ditadura e à Guerra Colonial ao sim à Liberdade!!

Nasci em 11-11-1952, em Lisboa dia de festa em muitas partes do Mundo.

Filho de operário especializado e mãe modista de raízes profundas a Lisboa.

Passei a infância entre Campo de Ourique e Queluz para onde os meus pais se viram obrigados a mudar para ter casa só para eles (já nessa altura os filhos de Lisboa eram chutados para fora da cidade e não havia vistos Gold nem Alojamento Local).

Da minha família retiro 3 lições:

As mulheres tinham profissões e trabalhavam;

O respeito pelo trabalho e por quem o executava;

A completa ausência de religião, se se falava era no sentido negativo;

Ao 3º ano do liceu levei suspensões e fui convidado a sair do Passos Manuel em Queluz.

Só comecei a ganhar estabilidade a partir dos 16/17 anos altura em tive a primeira abordagem política através de conhecidos na CEUD em 1969. O leque de pessoas empenhadas na luta antifascista foi aumentando e em 1970 (já trabalhava) fui convidado a fazer parte da formação da Proelium, cooperativa cultural, a 3ª depois da Devir em Lisboa e a Vis na Amadora.

Um período muito rico para a minha formação e consolidação anti-fascista, gente boa e lutadora, gente que já tinha experiência de Caxias, solidária, se sentia influência do PCP/MDP, a verdade é que já sentia opções mais à esquerda, como é evidente a Proelium e as outras foram fechadas pela PIDE.

A GUERRA COLONIAL

Como era evidente, o espectro da Guerra estava presente na minha vida. Tinha desbaratado a hipótese de adiamento através dos estudos (fiz exames do então 7º ano em 71 e 73, mas já era tarde). Os meus pais foram pouco recetivos a deixar-me ir para Inglaterra/Holanda aonde tinha tias maternas (o meu pai estava ausente por períodos longos por razões profissionais e eu era a companhia da minha mãe). Surge uma hipótese de trabalho em Luanda , onde teria a vantagem de após a recruta/especialidade, ali ficar e mais, poder fazer uma “perninha” na empresa. Tive dúvidas e num encontro num café em Algés pedi opinião a um grupo de companheiros, venceu a corrente “PCP/MDP” e lá fui para Luanda a 23-12-1971, com um LP do Zeca e que era senha para um encontro com um militante do PCP em Luanda e que aconteceu numa discoteca (foi chão que deu poucas uvas.!!!).

Em Janeiro de 72 parto para a Namíbia (então sob o controle da República Sul Africana) com licença dada pela Pide, com a garantia e responsabilidade do Diretor da empresa (ACTA) .

Um ano no deserto acampado perto da cidade Walvis Bay, em contato permanente ao vivo e a cores com racismo, segregação, o sufoco do Apartheid era impressionante, os avisos da Polícia para termos cuidado, senão… a aproximação difícil com as pessoas de cor além de ser branco era estrangeiro, o trabalho político resumiu-se a afirmar junto dos meus companheiros de trabalho, ser de esquerda e de recitar alguns poemas do Manuel Alegre do Canto e as Armas, livro que me acompanhou.

Em Janeiro de 73, já em Luanda, aproximo-me do MPLA via companheiros de trabalho, muita música muita poesia dita, muita “farra”…. (muita desilusão), é neste período que recebo uma carta duma camarada amiga da PROELIUM, a comunicar o assassinato do Ribeiro Santos, a minha resposta escrita foi: Camarada…, o que existe em Portugal à esquerda do PCP?

A 1 de Abril regresso a Lisboa com autorização militar.

A partir daí não havia retorno, rapidamente fui absorvido pela Grito do Povo (OCMLP) pela persuasão de dois camaradas, algum tempo depois sou militante, vou trabalhar para zona fabril da Venda Nova (Amadora) na Titan, com outros companheiros formamos um grupo de colaboradores do Comércio do Funchal, criou-se um:

Comité de Apoio à Luta dos Trabalhadores da Eduardo Jorge e através das informações que se teve, incentivou-se à greve, que aconteceu!!!

Em Outubro de 73 sou chamado para a incorporação militar!

 

 

O que fazer? – não ir! A OCMLP arranjou-me uma cédula militar e passei de alfacinha a tripeiro da Cedofeita, já tinha casa alugada na Reboleira e continuei a faltar às chamadas para a “Tropa” e fazendo a mesma vida e foi assim que o 25 de Abril me apanhou, às 4h30 na fábrica, no meio do turno, no refeitório ao ligarmos o rádio, ouvimos o RCP!!!

(Sempre grato aos Capitães de Abril!!!)

Tenho na ideia que cheguei ao Príncipe Real por volta das 11h e sei (de certeza) que saí do Carmo depois da retirada do Marcelo. A guerra já não me apanhava, era um “refratário no interior”, não fui militar, não dei o salto, como foi possível não ter sido apanhado pela PIDE?

Parafraseando um querido e saudoso amigo e camarada: Ou trabalhámos muito bem ou a PIDE não era tão boa como a pintavam. Depois foi PREC as manifestações, a caça ao pide, aos bufos, aos fascistas, a luta pela liberdade no 28 de Setembro e 11 de Março, a luta contra o PCP na fábrica, no sindicato, a militância total e empenhada na OCMLP, o combate ao sectarismo a unificação dos grupos m-l, o nascer do PCP(R),em Dezembro de 75, a ida para o Alentejo em 76 no arranque da campanha do Otelo e o fim do PREC, que (a meu ver) começa no dia seguinte às eleições!!

O ir de desilusão em desilusão para chegar à conclusão que o centralismo democrático é só centralismo e que da ditadura do proletariado fica somente a ditadura.

1980 Fim da militância partidária e um refazer de vida com a minha companheira, um começar do zero profissionalmente para os dois, o educar dum filho de Abril, o tentar ter a mente disponível para novas coisas, a esperança que o Bloco poderia ser, o ter que votar por vezes “pelo mal menor” mas sempre contra a extrema direita e nunca no conservadorismo reacionário do PCP desejando e desesperando pelo aparecimento dum movimento de defesa do Planeta, forte, rebelde, jovem, internacional que impeça o fim da vida na nosso mundo e que seja a força que aglutine os povos contra o crescendo da Internacional Reacionária que já é ou ainda é poder em vários pontos do Mundo.

Já não tenho (nem de perto) a força e audácia da minha juventude, mas ainda tenho a mente viva e alguma experiência para dar!

Junho de 2023

#50anos25abril