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“O futebol pode ser um aliado da luta certa”

Raquel Vaz Pinto, investigadora em Estudos Políticos, explica a importância da relação entre política e desporto.

Na final da Taça de Futebol de 1969, o confronto não foi apenas desportivo, nem sequer apenas estudantil, “era uma luta muito mais generalizada na sociedade”, assinala Raquel Vaz Pinto, investigadora em Estudos Políticos.

Para Raquel Vaz Pinto, a final que ficou para a História como um marco na contestação à ditadura assinala “o momento em que a política passou a estar no quotidiano de um desporto em particular, o futebol”.

Na análise da investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais, a final da Taça de 1969 “é um bom exemplo de como o desporto” pode ter “muito impacto” e de “como o futebol pode ser um aliado da luta certa, da luta que interessa, que é a luta e a defesa da democracia liberal”.

“Foi um exemplo, um momento de esperança, de entusiasmo, que, depois, anos mais tarde, ajudou a que Portugal pudesse derrubar a ditadura”

Atualmente, é importante “perceber como a ditadura, ou qualquer outra ditadura, perante (…) um desporto no qual se tem sucesso, (…) tenta cooptar, engolir e ficar associada a essa imagem de sucesso”, refere, lembrando o exemplo da instrumentalização do Real Madrid ao serviço da Espanha franquista.

“Temos feito um trabalho extraordinário de perceber as dinâmicas políticas, temos hoje em dia historiadores excelentes”, concede, notando, porém, que “talvez fosse interessante também introduzir o desporto e esta dimensão”.

A investigadora lembra que alguns clubes, como o Benfica “eram vistos com muita reticência [pela ditadura], porque tinham uma coisa chamada eleições para os seus presidentes, que era assim uma coisa muito revolucionária”.

O desporto, nomeadamente o futebol, não termina quando o jogo acaba. “Somos um país de futebol”, realça, considerando que este desporto “é uma montra extraordinária de tudo o que acontece” no país e do mundo.

Raquel Vaz Pinto sublinhou a importância de “gravar os testemunhos daqueles que ainda estão vivos” – algo que a Comissão Comemorativa para os 50 Anos do 25 de Abril tem feito –, para conhecer o passado e preservar a memória.

“Ajuda-nos a perceber como podemos evitar, ou como podemos combater, a degradação da democracia liberal, que é um fenómeno hoje, europeu e também internacional”, realça.

#50anos25abril