O futebol pode superar “as forças mais negativas” da História
Carlos Daniel, jornalista, analisa a Final da Taça de 1969, no Jamor
O jornalista Carlos Daniel nasceu em 1970, já depois da célebre final da Taça de Futebol de 1969, entre Académica e Benfica, e só mais tarde percebeu “a dimensão” daquele momento, “expoente de um caldo que se estava a criar na sociedade”.
Hoje, aquele jogo, um dos momentos mais marcantes da contestação estudantil à ditadura do Estado Novo, diz-lhe muito, por mostrar que “há coisas em que o futebol, de facto, supera a força da História, mesmo as forças mais negativas que a História revela”.
Além disso, “não ter havido transmissão televisiva, porque o regime percebeu o potencial de ruído que havia naquele final, ter havido cartazes que eram impossíveis de ser hasteados numa manifestação de rua porque seria automaticamente censurada… houve ali, de facto, um clima naquele dia, naquele jogo, que não se repetiu”, recorda.
Em 1969, “uma equipa [o Benfica] ganhou a Taça, mas outra [a Académica] ajudou a ganhar a liberdade e é incrível que o futebol tenha possibilitado isto”
Sabendo que “o futebol não esteve sempre do lado certo da História”, também é certo que, muitas vezes, não por culpa própria”, já que “os poderes instrumentalizaram, literalmente, o futebol”, assinala o jornalista, recordando os casos de Benito Mussolini, em Itália, e de Jorge Rafael Videla, na Argentina.
“O futebol não consegue muitas vezes opor-se à força dos regimes autocráticos, dos regimes ditatoriais, mas o futebol verdadeiro, na essência, é sempre um espaço em que é possível que os artistas se mostrem”, contrapõe Carlos Daniel.