Estudantes estiveram “na primeira linha da luta contra o regime”
Obra sobre o movimento estudantil durante a ditadura foi ontem apresentada na Feira do Livro de Lisboa
Entre 1962 e 1974, “não há um único ano em que a luta estudantil não esteja na primeira linha da luta contra o regime” e, a partir de 1968, “os estudantes aproveitaram até ao fim” a maior “tolerância” da ditadura, destacou o professor e historiador Fernando Rosas, na sessão de lançamento da publicação Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril, na Feira do Livro de Lisboa.
Na sessão de apresentação da obra sobre as lutas estudantis travadas durante a ditadura – que acompanha a exposição com o mesmo título, ambas iniciativas da Estrutura de Missão para as Comemorações do quinquagésimo aniversário da Revolução do 25 de Abril -, Fernando Rosas recordou o seu tempo de militância na luta estudantil, para assinalar o “contributo essencial” dos estudantes na alteração da “hegemonia cultural” da oposição antifascista e para “pôr a guerra colonial no centro da discussão política, onde não estava”.
O movimento estudantil – realçou, perante as dezenas de pessoas que esgotaram a lotação da tenda BLX – extravasou a Universidade e estendeu-se a toda a sociedade.
Na mesma sessão, a professora e historiadora Luísa Tiago de Oliveira discorreu sobre os diversos “repertórios de luta” (a guerra colonial, o capitalismo, a condição das mulheres) e sublinhou que “um regime que mandava prender crianças de 13, 14 anos tinha de ter os dias contados”.
Destacando o lançamento de hoje como um “acontecimento editorial” e sublinhando a sua natureza coletiva, Álvaro Garrido, coordenador científico da exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, referiu que a obra assumiu “um sentido didático”, particularmente “interessante e cativante” para as novas gerações.
“A natureza da memória dos movimentos estudantis é muito frágil” e a sua historiografia “muito intermitente”, constatou, realçando que a exposição (e, consequentemente, a obra agora publicada) conta com um “número de imagens invulgar” e alguns documentos inéditos.
Criticando a “versão empobrecida” dos acontecimentos que por vezes prevalece, o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra frisou que “a memória das lutas estudantis não se esgota nas crises de 1962, em Lisboa, e de 1969, em Coimbra”, tendo sido “uma luta quotidiana de resistência”.
Comissariada por Álvaro Garrido, a exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril” – inaugurado a 24 de março, data em que Portugal passou a viver mais dias de democracia do que de ditadura – esteve patente em Lisboa até 4 de setembro e seguirá agora para Coimbra.
A comissária executiva das comemorações oficiais do 25 de Abril, Maria Inácia Rezola, salientou que pretende repetir iniciativas deste tipo, com o objetivo de “trazer a História e a memória para a arena pública”.
Nesse sentido, a obra ontem apresentada será, em breve, disponibilizada online, para acesso livre, na página oficial das comemorações oficiais do 25 de Abril.