Tomás Alves, o homem por trás do herói
Ator que representa Salgueiro Maia no cinema destaca o “exemplo raro” de alguém “fiel aos seus princípios”.
O filme que traz Salgueiro Maia para o grande ecrã é “um bom testemunho, não só para as novas gerações, mas para todos em geral”, acredita o ator Tomás Alves, que representa o capitão de Abril.
O filme “Salgueiro Maia – O Implicado” – diz – “fala sobre o 25 de Abril e outras datas importantes, mas foca-se muito mais na pessoa, no Fernando José Sagueiro Maia, no homem por trás do herói”.
Tomás Alves reconhece a “grande responsabilidade por estar a dar vida e corpo a uma personagem que foi tão importante” na História, cujas decisões foram “o passo em frente” para a democracia em Portugal.
“Estamos a falar de uma pessoa que sempre foi muito fiel aos seus princípios e levou a vida com uma grande dose de humanidade”, destaca.
Isso faz de Salgueiro Maia um “exemplo raro que pode, e deve, influenciar as nossas vidas, sobretudo num momento em que vivemos uma guerra na Europa e em que aparecem “casos que põem muito em causa os valores de Abril e da democracia”.
Além disso, “nunca é demais falar sobre a liberdade e sobre quem luta e quem lutou pela liberdade”, assinala o ator.
No dia 25 de Abril de 1974, é Salgueiro Maia quem comanda as tropas que, vindas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, cercam o Terreiro do Paço. É o então capitão Maia quem comanda igualmente o cerco ao Quartel do Carmo, que termina com a rendição de Marcello Caetano, o último presidente do Conselho, e a entrega do poder a António de Spínola.
“Esse peso teve que ir sendo posto de lado, porque podia jogar contra mim, podia ser limitativo para fazer bem o meu trabalho”, explica, sublinhando que “há sempre uma grande responsabilidade inerente ao facto de estarmos a representar uma pessoa que existiu”.
Essa responsabilidade liga-se ao “rigor histórico”, mas também ao equilíbrio entre “não ferir suscetibilidades” e “não ir contra a verdade”.
O ator pesquisou muito sobre o capitão de Abril e falou com pessoas que com ele privaram, mas assume também “uma certa liberdade poética”, tentando respeitar a vontade de Salgueiro Maia, que “nunca quis ser o herói que é considerado hoje em dia”.
“Todos os anos em abril em minha casa se falava sobre o 25 de Abril, sobre a importância da data, sobre o que possibilitou [a revolução], sobre como era antes de haver liberdade no nosso país. Foi um tema sempre muito recorrente em conversas de casa. O nome do Salgueiro Maia vinha, como muitos outros nomes vinham também, e fazia parte das conversas”, recorda.
A cada 25 de Abril, Tomás Alves tenta “ir para a rua” e, num dos que foram atrapalhados pela pandemia, decidiu fazer o percurso de Salgueiro Maia em 1974 – Rua do Arsenal, Terreiro do Paço, Largo do Carmo – e assim traçar o “mapa mental dos passos dele nesse dia”.
Sobre o filme “Salgueiro Maia – O Implicado”
Estreia nos cinemas de todo o país a 14 de abril de 2022
No dia 25 de Abril de 1974 um homem caminhou sozinho pelo Largo do Carmo. Bateu à porta do quartel da GNR e entrou, desarmado e sem escolta. Lá dentro, o chefe do Governo, Marcelo Caetano, aguardava, cercado pelos militares e pelo povo. O homem que o encarou nessa tarde e que lhe exigiu a rendição, garantindo a sua segurança, acabava de liderar o regimento de Artilharia 1 de Santarém na tomada da capital. Sem disparar um único tiro conseguira derrubar um regime com mais de 48 anos. Aquele era o último passo a dar e ele deu-o, sem hesitação, tornando-se na figura incontornável do dia que marcou o início da democracia em Portugal.
Esse homem era o capitão Fernando Salgueiro Maia e esta é a sua história.