Skip to main content

Catarina Sobral: “É urgente descolonizar o pensamento e reconhecer os legados da opressão, para se combater a desigualdade. Porque a desigualdade é a maior ameaça à democracia.”

No ano em que se assinala meio século do momento fundador da democracia portuguesa, a Comissão convidou quatro reconhecidos artistas portugueses – AkaCorleone, Catarina Sobral, Matilde Horta e Nuno Saraiva – a criarem ilustrações para assinalar os 50 anos do 25 de Abril.

A ilustradora e autora Catarina Sobral junta-se, assim, às Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e #DizAbril com uma imagem inédita, disponível no site da Comissão, em conjunto com outros recursos de uso livre.

Catarina Sobral escreve, ilustra e faz cinema de animação. Colabora regularmente como ilustradora para a imprensa, discos e cartazes. Já ilustrou dezassete livros infantis, publicados em mais de quinze línguas. Tem participado em várias exposições, nacionais e internacionais, e o seu trabalho já foi premiado pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, Prémio Nacional de Ilustração, Sociedade Portuguesa de Autores; e distinguido por publicações como o catálogo White Ravens e a revista 3×3.

   

 

Que importância tem para ti o 25 de Abril?

Eu já nasci em liberdade, mas o meu avô, por exemplo, durante a ditadura, chegou a descobrir, na mesa de voto, que o patrão já tinha votado por ele. Passaram pouco mais de 50 anos desde que isso aconteceu, é muito pouco tempo. Esta memória não se pode esbater e, por isso, Abril é para mim um lembrete das liberdades a que estou habituada, das quais já não me dou conta no dia-a-dia, mas que não devo ter como garantidas. Essas liberdades são tão valiosas, e a história da conspiração que levou à conquista da Liberdade tão emocionante, que o 25 de Abril é, por isso, o dia mais bonito do ano.

De todas as conquistas que o 25 de Abril trouxe, qual tem mais significado para ti?

Eleições livres. Verdadeiramente livres e para todxs.

Como foi o processo de desenvolvimento da ilustração?

Eu quis partir da ideia de pluralidade: de que o 25 de Abril é de todxs e que aconteceu em todos os territórios. E, ao mesmo tempo, de que é uma festa! Como a ilustração tinha de funcionar na vertical e na horizontal, seria mais fácil ter um conjunto de elementos que se pudessem separar e/ou modificar. Então, pensei nesta composição em diagonal, com várias personagens, todas numa posição parecida e a segurar cravos. Embora não seja evidente, tentei representar pessoas desde 74 até aos dias de hoje.

Que papel consideras que tem a Arte num contexto de democracia?

Os artistas são parte do mundo em que vivem e trazem o mundo em que vivem para o seu trabalho. Em qualquer contexto, se a arte não dialoga com o mundo, para mim, perde valentia e beleza. Em democracia, a Arte pode (deve) lembrar-nos não só dos valores democráticos como do risco de os perdermos.

O que consideras imprescindível ou prioritário ter em conta na reflexão sobre os próximos 50 anos de democracia?

A narrativa que ainda persiste sobre a colonização. É urgente mudar os manuais escolares; contextualizar todos os artefactos que ainda fazem a apologia da ocupação, do roubo e do subjugo das populações locais, que Portugal fez durante séculos; construir finalmente o memorial às pessoas escravizadas; e, acima de tudo, descolonizar o pensamento, reconhecer os legados da opressão. Porque sem isso não se combate a desigualdade, e a desigualdade é a maior ameaça à democracia e ao planeta.

 


#DizAbril, para celebrar a liberdade nas redes sociais

A Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril desenvolveu a Campanha #DizAbril, que convida todos a, durante o mês de abril, celebrarem nas redes sociais meio século de liberdade de expressão e de pensamento com poemas, canções, imagens ou palavras de ordem.

Para participar nesta campanha digital é apenas necessário usar nas publicações os hashtags #DizAbril e #50anos25deAbril. A Comissão disponibiliza no seu site, em 50anos25abril.pt, molduras para cada um dos #DizAbril.

O objetivo desta iniciativa é motivar os participantes a aprofundarem o seu conhecimento sobre este momento histórico e a expressão artística que ele inspirou, mas também que o convite motive a criação de conteúdos originais.

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. Cada ano vai focar-se num tema prioritário, tendo como objetivo reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.

O período inicial das Comemorações tem sido dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) começam a ser revisitados, em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.

#50anos25abril