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Nuno Saraiva: “Quis representar misturas: géneros, cores, idades e gerações – porque celebrar Abril é celebrar o presente.”

No ano em que se assinala meio século do momento fundador da democracia portuguesa, a Comissão convidou quatro reconhecidos artistas portugueses – AkaCorleone, Catarina Sobral, Matilde Horta e Nuno Saraiva – a criarem ilustrações para assinalar os 50 anos do 25 de Abril.

O ilustrador e cartunista Nuno Saraiva junta-se, assim, às Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e #DizAbril com palavras de ordem, que formam uma ilustração, disponível no site da Comissão, em conjunto com outros recursos de uso livre.

 

 

Nuno Saraiva é um ilustrador português com colaborações em quase toda a imprensa nacional editorial. Autor de banda desenhada, é residente no jornal online @mensagemdelisboa, onde publicou com Ferreira Fernandes o livro “Crónicas de Lisboa” (Asa/Leya). É também cartunista político do Inimigo Público (jornal Expresso). Foi autor da imagem das Festas de Lisboa e Marchas, de 2014 a 2023. Professor nas escolas de arte Ar.Co e World Academy, coordena também o curso de ilustração digital na Lisbon School of Design. Entusiasta da Pintura Mural (com U) com inúmeros trabalhos expostos pela cidade, tais como “A História de Lisboa” (Alfama), “Fado” (Mouraria), “Mandela” (Campo Grande) ou “Pensão Amor” (Cais do Sodré). Recentemente, lançou, em coautoria com Manuel S. Fonseca, o livro “25 de Abril – No Princípio Era o Verbo” (Guerra&Paz).

Que importância tem para ti o 25 de Abril?

Há quem rejubila com o Natal, quem delira com o Carnaval, os que amam festejar o próprio aniversário. Para mim, o 25 de Abril – e sei que estou a fugir ao verdadeiro sentido da pergunta – é a data que tudo reúne, que me deixa feliz e me enche, muitas vezes, de insuportável comoção: porque sei muito bem que estou a celebrar livre e vivo o momento que, a muitos, foi capturado há precisamente 50 anos atrás.

De todas as conquistas que o 25 de Abril trouxe, qual tem mais significado para ti?

O fim da Guerra. Não sei o que seria de mim se o meu pai, capitão miliciano mobilizado em Moçambique em 74, tivesse ficado ali, estropiado ou morto. Hoje, penso muito nisto. Somos todos herdeiros, filhos ou netos, deste nebuloso e ainda pouco discutido tema.

Como foi o processo de desenvolvimento da ilustração?

Foi como dançar e brindar com os amigos. Gosto de tudo que desenho, nunca aceitei ilustrações amordaçadas no conteúdo ou ao cliente. Aqui, desenhei em plena liberdade a Liberdade. Quis representar misturas: géneros, cores, idades e gerações, numa manifestação onde as bandeiras ou palavras de ordem seguem a linguagem dos emojis: polegares firmes, punhos fechados, etc. Porque celebrar Abril é também celebrar o presente.

Que papel consideras que tem a Arte num contexto de democracia?

A Arte deve saber desconstruir, atacar, ser autocrítica, viver permanentemente para subverter algo. A democracia não pode estar incólume, intocável. No momento em que deixarmos de ser críticos, a Democracia mudará de sentido e de nome.

O que consideras imprescindível ou prioritário ter em conta na reflexão sobre os próximos 50 anos de democracia?

Vivi, na infância, os anos da festa, embriaguez e ressaca da revolução. As décadas seguintes foram como que um arrumar a casa com a visão turva, mas sem nunca esquecer que tínhamos uma efeméride a celebrar todos os anos. Não podemos banalizar a efeméride, sob culpa e risco de estarmos a entediar as gerações mais novas. Temos de ir mais atrás, até antes de 1974. Saber explicar a tortura, o medo, as perseguições, as mortes nas cadeias e nas ruas, a morte do próximo, a morte de um filho.

 


#DizAbril, para celebrar a liberdade nas redes sociais

A Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril desenvolveu a Campanha #DizAbril, que convida todos a, durante o mês de abril, celebrarem nas redes sociais meio século de liberdade de expressão e de pensamento com poemas, canções, imagens ou palavras de ordem.

Para participar nesta campanha digital é apenas necessário usar nas publicações os hashtags #DizAbril e #50anos25deAbril. A Comissão disponibiliza no seu site, em 50anos25abril.pt, molduras para cada um dos #DizAbril.

O objetivo desta iniciativa é motivar os participantes a aprofundarem o seu conhecimento sobre este momento histórico e a expressão artística que ele inspirou, mas também que o convite motive a criação de conteúdos originais.

 

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. Cada ano vai focar-se num tema prioritário, tendo como objetivo reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.

O período inicial das Comemorações tem sido dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) começam a ser revisitados, em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.

#50anos25abril