Na empresa de confeções têxteis Sogantal, no Montijo, composta por mão-de-obra exclusivamente feminina e mal remunerada, desenvolve-se um dos processos de luta mais originais deste período. Como noutros casos, é conduzida com a oposição do governo, PCP, Intersindical e sindicatos.
A luta arranca a 20 de maio, com a apresentação do caderno reivindicativo, e no dia 30 a administração da empresa anuncia a intenção de encerrar a fábrica.
A situação precipita-se quando, a 13 de julho, a administração e o seu representante português abandonam as instalações, pelo que as trabalhadoras assumem o controlo da fábrica e a venda da produção como forma de assegurar o pagamento dos salários.
O apoio popular será decisivo, nomeadamente na madrugada de 24 de agosto, ao impedir o proprietário francês, acompanhado pelo gerente português e por cerca de 20 elementos, alguns deles armados, de retirar da fábrica os stocks e a maquinaria.
A fábrica foi, ao longo de cerca de um ano, gerida pelas trabalhadoras, que se deslocavam por vários pontos do país para vender a produção, despertando uma impressionante onda de solidariedade, envolvendo outras empresas, sindicatos, partidos de esquerda, comissões de moradores ou músicos como José Afonso, Fausto ou Vitorino.
A luta das trabalhadoras da Sogantal ficou registada no documentário, Les Ouvrières de la Sogantal. Uma das operárias afirma que foi durante este processo que despertou para a luta pelos seus direitos enquanto mulher. Outra trabalhadora descreve este período como a «máxima expressão da nossa liberdade […] Estávamos a descobrir tudo, era como se nascêssemos outra vez».