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A Guerra travada em África desde 1961 em Angola que se estendeu à Guiné e Moçambique respetivamente em 1963 e 1964, não tinha solução militar.

Era uma guerra travada a milhares de quilómetros de distância do Continente.

Era uma guerra que exigia cada vez mais homens. O contingente mobilizado no Continente encontrava-se esgotado, sendo necessário recorrer a incorporações locais.

Era uma Guerra em que o posto chave no comando das unidades de combate, o Capitão, há muito tinha esgotado os quadros permanentes, sendo necessário recorrer a capitães milicianos.

Era uma guerra que levantava a comunidade internacional contra o Governo de Portugal, deixando-o muitas vezes isolado.

Era uma guerra em que os opositores às Forças Armadas portuguesas, os Movimentos de Libertação, estavam cada vez mais bem armados e contavam com apoio crescente da comunidade internacional.

Era uma guerra perdida a prazo.
A única via para terminar com a Guerra era uma solução negociada que conduzisse à paz.

A Ditadura nunca o quis fazer.

A Organização e o quotidiano

O Batalhão

A organização militar assumida pelo Exército durante a Guerra Colonial foi estruturada tendo em conta a necessidade de exercer a soberania sobre vastos territórios e populações.

Optou-se, assim, por adotar uma defesa terrestre assente no sistema de quadrícula, termo oriundo da cartografia usado para organizar as unidades que estavam distribuídas pelo território.

O escalão batalhão correspondia ao patamar inferior de responsabilidade territorial.

Cada batalhão tinha atribuída uma área geográfica, uma zona de ação da sua responsabilidade onde organizava o seu dispositivo. Os batalhões eram responsáveis pela busca, perseguição e destruição dos grupos de guerrilheiros, mas também pelo controlo, defesa e apoio social das populações.

A Companhia e os Capitães

Os batalhões eram constituídos por quatro companhias: uma delas, a companhia de comando e serviços, permanecia junto do comando do batalhão; as outras três, companhias de atiradores, eram distribuídas por aquartelamentos na zona de ação do batalhão. Cada companhia tinha, aproximadamente, cerca de 160 homens.

O aquartelamento tipo, de localização isolada, era, assim, o do escalão de companhia. As companhias eram as unidades básicas de combate, com grande autonomia, sendo o seu comandante um oficial com o posto de Capitão. Deste modo, durante a guerra em África, os capitães exerciam funções e detinham responsabilidades que na metrópole só eram atribuídas a oficiais de graduação muito superior.

O capitão tornou-se, assim, o posto-chave da guerra travada por Portugal em África. Foram eles que comandaram as centenas de milhares de soldados que para ela foram mobilizados.

É ainda essencial referir a enorme importância dos alferes e dos sargentos (furriéis) milicianos no comando direto dos grupos de combate das suas companhias.

O Quotidiano

Diariamente as unidades saiam para operações de patrulhamento, ou outras, de acordo com o plano de atividades.

As rotinas eram muitas vezes quebradas pela chegada de colunas de reabastecimento ou de aviões com o correio, pela saída inopinada para operações, pela evacuação de feridos e pelos ataques dos guerrilheiros, que ocorriam habitualmente de noite, aliás, o período mais difícil de passar, pela necessidade de montar postos de segurança, a noção de ameaça mais provável e até o incómodo provocado pelos insetos.

Outro aspeto marcante do quotidiano era a alimentação dos militares, a grande dificuldade residia em fazer chegar géneros
até às tropas e, especialmente garantir o fornecimento de alimentos frescos, pelo que muitas vezes se utilizavam recursos locais e de caça. Questão também importante era a confeção dos alimentos, a cargo de cozinheiros mal preparados, que iam aprendendo com o tempo e a prática.

Os Aquartelamentos

A construção dos quartéis foi na grande maioria dos casos realizada pelas tropas e não por unidades especializadas de engenharia.

A construção, quer se tratasse de obra de raiz ou de melhoramentos em instalações existentes, ia sendo feita à medida das disponibilidades de tempo e de material, aproveitando o trabalho de militares com prática anterior das artes da construção civil.

Os materiais utilizados foram também os mais variados, desde o adobe, capim, madeiras locais. Os bidões de 200 litros em que vinha o combustível para as viaturas tinham múltiplos fins: para proteção das infraestruturas com areia nos seu interior; como depósito de água; como acessório de apoio às cozinhas depois de cortados a meio; abertos ao alto e espalmados serviam como proteção a paredes de construção mais improvisada ou para telhados.

A COMPANHIA A UNIDADE CHAVE

O número de Companhias de Combate, nos três Teatros de Operações, em 1974, era de cerca de 500.

O que significava estarem em permanência no comando de companhias em combate cerca de 500 capitães.

Pessoal
Serviço Militar
Obrigatório

Desde o início da guerra em Angola em 1961, na Guiné em 1963 e em Moçambique em 1964 o número de militares mobilizados não pararia de crescer.

Em 25 de Abril de 1974 os efetivos militares nos três teatros de operações tinham atingido um número superior a 150 000 homens.

O serviço militar obrigatório era na prática de cerca de 4 anos e as comissões em teatro de operações eram de 2 anos.

O esgotamento de pessoal das Forças Armadas vai fazer-se sentir em primeiro lugar ao nível das praças, não sendo o recrutamento do Serviço Militar Obrigatório suficiente para mobilizar efetivos suficientes. O recrutamento na Metrópole passou a não ter capacidade de gerar um contingente necessário para as exigências de cada uma das frentes.

A solução para este problema foi a de passar a recrutar, em cada um dos teatros de operações, praças africanas para completar os contingentes, numa ação que ficou conhecida por Africanização da Guerra.

Pessoal
Capitães

As exigências operacionais determinaram que o número de Companhias em Combate fosse sempre crescendo.

Em 1974 havia cerca de quinhentas Companhias nos três Teatros de Operações.

Para as comandar havia necessidade ter em permanência igual número de capitães.

Acresciam a este número os capitães que no continente tinham sido mobilizados para unidades que iam render as que, nos três Teatros de Operações, iam terminando as suas comissões.

As admissões na Academia Militar eram escassas, pelo que não existiam capitães dos Quadros Permanentes em quantidade para satisfazer todas as necessidades.

A solução encontrada foi a de formar, de forma acelerada, capitães milicianos, que progressivamente passaram a comandar a maioria das Companhias em Combate.

Com o tempo o número de Companhias comandadas por Capitães dos Quadros Permanentes decresceu e em contrapartida as Companhias comandadas por Capitães Milicianos aumentou. Muitas companhias só tinham um 1.º Sargento como elemento dos Quadros Permanentes.

A partir de 1972 a maioria das Companhias passou a ser comandada por capitães milicianos o que inevitavelmente se refletiu na moral das tropas e da sua capacidade combatente.

Não é sustentável ter um Exército em combate, em que a maioria dos comandantes da suas principais unidades não pertencem aos quadros permanentes.

Aeronaves da Força Aérea

Noratlas • Fiat G 91 • DO 27 • Alouette III

Navios da Marinha

Lancha de Fiscalização Pequena – Classe Júpiter • Lancha de Fiscalização Grande – Classe Argos • Lancha de Desembarque Média • Lancha de Desembarque Grande – Classe Bombarda • Croveta – Classe João Coutinho

Armamento Exército

Viatura blindada Panhard AML • Obus de 8,8 • Obus de 14,0 • Obus de 10,5 • Morteiro de 81 • Viatura blindada Fox • Viatura blindada Chaimite

PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde

Em 19 de Setembro de 1956, Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luis Cabral e Rafael Barbosa entre outros, fundam o Partido Africano para a Independência que, em Outubro de 1960, se transforma em Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Em 23 de Janeiro de 1963 o PAIGC inicia a Luta Armada com um ataque à povoação de Tite, na margem esquerda do rio Geba.

O PAIGC recebeu equipamento e treino militar da União Soviética, República Popular da China e de Cuba.

Em 20 de Janeiro de 1973 é assassinado Amílcar Cabral, o que constituiu um rude golpe na direção política e militar do PAIGC.

A partir de Março de 1973 uma nova arma antiaérea entra no teatro de operações e são abatidos em menos de três meses cinco aeronaves da Força Aérea Portuguesa o que constituiu um rude golpe para Forças Armadas portuguesas, e inverte a correlação de forças militares, passando a iniciativa para o lado dos guerrilheiros.

Em 24 de Setembro de 1973 é declarada a independência da República da Guiné-Bissau que prontamente foi reconhecida por cerca de 80 países.

Depois do 25 de Abril de 1974 Portugal reconhece a independência de República da Guiné-Bissau em 10 de Setembro de 1974. Luís Cabral será o seu primeiro Presidente da República.

Amílcar Cabral

Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, Guiné, em 12 de Setembro de 1924 e foi assassinado em Conacri em 20 de Janeiro de 1973.
Licenciou-se em agronomia em Lisboa, tendo nessa altura conhecido, na Casa dos Estudantes do Império, outros estudantes africanos futuros líderes nacionalistas, entre eles, Agostinho Neto, Mário de Andrade, Francisco Tenreiro, Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos.
Em 1952 passa a viver em Bissau contratado pelo Ministério do Ultramar para os serviços agrícolas e florestais da Guiné.
Em 1956 fundou na Guiné o Partido Africano para a Independência, com Arísitides Pereira, Luís Cabral, Rafael Barbosa, entre outros, e que, em Outubro de 1960, se transforma em Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Amílcar Cabral defendeu sempre três ideias: o pan-africanismo, a solidariedade interafricana; a construção de uma sociedade mais justa e igualitária na linha de um socialismo africano; a unidade da Guiné e Cabo Verde.
Dirigiu a luta política e militar desde 1963 a 1973, tendo conseguido adquirir um enorme prestígio internacional sendo então um dos mais reconhecidos líderes africanos.
Em 08 de Janeiro de 1973 anuncia publicamente que nesse ano seria declarada a independência unilateral da Guiné-Bissau, o que veio efetivamente a acontecer em 24 de Setembro de 1973, já sem Amílcar que havia sido assassinado a 20 de Janeiro desse ano.

FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique

Pode considerar-se que a guerra desenvolvida pela FRELIMO comportou três fases, a primeira logo no início das hostilidades em 1964 estendeu-se por Cabo Delgado, Niassa e Tete, com especial esforço nesta última, numa segunda fase a frente de Tete foi em parte abandonada tendo sido dado especial importância aos dois distritos do Norte, Cabo Delgado e Niassa, utilizando profusamente a guerra de minas.

Tentaram assim, por um lado criar as chamadas zonas libertadas e por outro abrir corredores para a Zambézia e Tete. Em 1970 é lançada, pelo Exército português a operação “Nó Górdio” de concepção do general Kaúlza de Arriaga provocando um deslocamento da guerrilha em direção a Tete e a Sul, mantendo no entanto atividade significativa a Norte.

A FRELIMO foi confrontada em 03 de Fevereiro de 1969 com o assassinato do seu líder, Eduardo Mondlane através de uma encomenda-bomba.
Depois de um período conturbado, Samora Machel assume a presidência da FRELIMO em Maio de 1970.

A construção da barragem de Cabora Bassa implicou uma alteração do dispositivo militar português com o objetivo de defender as obras da barragem e garantir as linhas de apoio logístico à sua construção.

A partir de 1973 o avanço para Sul da guerrilha é uma realidade e alarmam as populações brancas que se manifestaram, em Vila Pery e na Beira contra as forças portuguesas por não se mostrarem capazes de conter os avanços da guerrilha.

Depois do 25 de Abril de 1974 o Estado Português assinou com a FRELIMO, em 07 de Setembro de 1974, os acordos de Lusaca, em que Portugal reconhece o direito de Moçambique à sua independência acordando no processo de transferência de poderes.

A independência de Moçambique seria solenemente proclamada no dia 25 de Junho de 1975

Samora Machel

Nasceu em 29 de Setembro de 1933, em Madragoa, na província de Gaza. Após terminar a escola primária em colégios católicos, ruma a Lourenço Marques (Maputo), onde encontra trabalho no Hospital Miguel Bombarda onde inicia e termina um curso de enfermagem.
Samora Machel, neto de um dos guerreiros de Gungunhana, foi educado nas ideias do nacionalismo africano. Acompanhará com toda a atenção a Revolução Chinesa em 1949, e a independência do Gana em 1957, e será um admirador, quer de Mao Tsé-Tung quer de Kwame Nkrumah.
O seu encontro com Edurado Mondlane em 1961 vai determinar a sua adesão à FRELIMO e a sua partida para a Tanzânia.
Ciente que Moçambique só ascenderia à independência pela luta armada, rompe com os setores políticos e dedica-se principalmente à organização militar e à preparação para a guerrilha.
Recebe treino militar na Argélia e ascende a um posto de comandante da guerrilha.
Em 1970, após o assassinato de Eduardo Mondlane em 1969, Samora Machel ascende à presidência da FRELIMO.
Samora Machel rodeia-se então de um grupo dirigente coeso e toma uma arriscada decisão de transferir o esforço da guerrilha para Tete, em torno da barragem de Cabora Bassa, logrando em 1973 efetuar ataques a Vila Pery e a aproximar a guerrilha da Beira.
Ao decidir transferir o esforço do Norte para Tete, Samora Machel provou ter uma leitura correta da situação militar que o governo de Portugal não teve ao empreender a construção da barragem. As forças portuguesas foram forçados a empenhar um enorme dispositivo na defesa das obras da barragem e a proteger os corredores logísticos necessários à sua construção, situação a FRELIMO aproveitará em pleno.
Após o 25 de Abril de 1974, após vário ciclos de negociações, são assinados, a 7 de Setembro de 1974, os acordos de Lusaca que previam a independência de Moçambique e as condições para o período de transição.
Moçambique ascende à sua independência em 25 de Junho de 1975 e Samora Machel será o seu primeiro presidente.
Samora Machel morrerá num acidente de aviação sobre território sul-africano em 19 de outubro de 1986, especulando-se até hoje sobre as suas verdadeiras causas.
Retrato do Presidente Samora Moisés Machel. FMSMB / Malangatana Valente Ngwenya Retrato do Presidente Samora Moisés Machel. FMSMB / Malangatana Valente Ngwenya
Eduardo Mondlane fundador e primeiro Presidente da FRELIMO. FMSMB / Malangatana Valente Ngwenya Eduardo Mondlane fundador e primeiro Presidente da FRELIMO. FMSMB / Malangatana Valente Ngwenya

Eduardo Mondlane

Nasceu em 20 de Junho de 1920 em Manjacaze, na província de Gaza, filho de um chefe tradicional e pastor presbiteriano.
Fez os estudos primários numa missão religiosa suíça situada perto do seu local de nascimento, prosseguiu os estudos secundários numa escola presbiteriana na África do Sul. Em 1944 inscreveu-se em Antropologia e Sociologia na Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo tendo, quatro anos depois, sido obrigado a regressar a Moçambique devido à instauração da política de apartheid na África do Sul.
Recebendo apoio da Igreja Presbiteriana vem para Lisboa onde prossegue os seus estudos universitários, passa a frequentar a Casa dos Estudantes do Império onde priva com outros futuros líderes africanos Agostinho Neto e Amílcar Cabral.
Ainda com o apoio da Igreja Presbiteriana vai para os EUA, onde casa com uma cidadã americana e obtém, em 1958, o doutoramento em Sociologia na Universidade de Northwestem.
Em 1961 torna-se funcionário das Nações Unidas. Ainda nesse ano de 1961 regressa a Moçambique, onde contata com os emergentes movimentos nacionalistas e toma consciência de que estavam criadas as condições para o estabelecimento de um movimento de libertação.
Contando com o apoio do presidente da Tanzânia, Julius Nyerere, funda a FRELIMO em 1962 pela fusão de três movimentos nacionalistas já existentes.
A FRELIMO Inicia a luta armada a 24 de Setembro de 1964 com os ataques ao posto do Chai em Cabo Delgado e ao Cobué no Niassa e até ao final do ano a guerrilha desencadeia outras operações em diversas localidades de Cabo Delgado, Niassa e Tete, espalhando grande insegurança entre as populações e o desnorte nas autoridades.

UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola

Em Julho de 1954 foi criada em Leopoldville a União dos Povosdo Norte de Angola (UPNA) sendo o seu dirigente máximo Holden Roberto, a maioria dos seus quadros e apoiantes eram Bacongos. O objetivo central da UPNA era o de conseguir a independência do reino do Congo, incluindo Cabinda.

Em Dezembro de 1958 após ter participado no congresso dos povos africanos em Acra, Holden Roberto percebe que se torna necessário alargar o âmbito tribal do seu movimento passando o partido a denominar-se União dos Povos de Angola (UPA), transformando-se assim num movimento nacionalista, com maior e melhor organização, recolhendo importantes apoios entre protestantes e em alguns setores católicos.

Com a independência do Congo Belga em 1960, a oposição ao sistema colonial portuguesa radicaliza-se e com o apoio dos EUA a UPA prepara uma ação armada no Norte de Angola.
A 15 de Março de 1961 milhares de guerrilheiros da UPA, na sua maioria Bacongos, lançam um assalto às fazendas do café no Norte de Angola, armados de catanas e de canhangulos, provocando a morte a cerca a mil colonos brancos, bem como a largos milhares de africanos, na sua maioria Bailundos.

A brutalidade desta ação, prejudicaram a luta anticolonial e permitiram ao Governo de Lisboa apresentar aos portugueses as imagens do horror ocorrido e apelar à mobilização para a guerra.

Em Março de 1962 a UPA transforma-se em Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

Devido à sua proximidade com os EUA a FNLA perde apoios do Congo-Brazaville e da Zâmbia. Vai enfrentar várias cisões internas, a maior das quais em 1964, com a saída de Jonas Savimbi e de cerca de uma centena de militantes que irão fundar a UNITA.
Este conjunto de cisões irão, progressivamente, retirar-lhe força militar e capacidade de influência política.

Depois do 25 de Abril de 1974, participa na cimeira do Alvor, em Janeiro de 1975, cujo documento final é subscrito pelo seu presidente.

Com o início da guerra civil em Angola em 1975, a FNLA tenta tomar Luanda tendo-se travado, em Novembro desse ano, a Batalha do Quifangondo, em que o exercito da FNLA, comandado pelo próprio Holden Roberto é derrotado pelas forças do MPLA, que proclamam, logo de seguida a independência de Angola.

A capacidade da FNLA, a partir desta derrota, ficará muito enfraquecida.

Jonas Savimbi

Jonas Savimbi nasceu em Angola a 3 de Agosto de 1934 e faleceu em 22 de Fevereiro de 2002.
Estudou em Lisboa de onde saiu para Paris apoiado por uma organização protestante americana, onde foi funcionário da União das Populações de Angola (UPA). Foi representante de Holden Roberto na Europa lugar que ocupava quando dos massacres em Angola em Março de 1961.
Foi secretário do ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE) e foi um dos fundadores da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
Manteve intensos contatos com organizações políticas e religiosas ligadas à CIA.
Demitiu-se do GRAE e da FNLA em 1964 mantendo contatos com embaixadas da República Popular da China e dos Estados Unidos da América.
Funda a UNITA em 1966 e inicia a luta armada nesse mesmo ano.
A partir de 1972 estabelece um acordo com as autoridades portuguesas – Operação Madeira – em que estabelece um cessar-fogo com as Forças Armadas portuguesas passando a constituir o seu foco militar o MPLA, recebendo em troca apoio das autoridades portuguesas.
Após o 25 de Abril de 1974 liderará as conversações com o Governo de Portugal para a independência de Angola, os acordos do Alvor.
Após a independência de Angola em 11 de Novembro de 1975, Jonas Savimbi irá liderar a UNITA na prolongada guerra civil que então ocorre, tendo sido morto num confronto militar com forças do MPLA em 22 de Fevereiro de 2002.
Jonas Savimbi, presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), dirigindo-se à multidão durante as cerimónias da proclamação da independência, no estádio de futebol da cidade do Huambo, a 11 de novembro de 1975. FMSMB / Arquivo Ingeborg Lippman Jonas Savimbi, presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), dirigindo-se à multidão durante as cerimónias da proclamação da independência, no estádio de futebol da cidade do Huambo, a 11 de novembro de 1975. FMSMB / Arquivo Ingeborg Lippman

UPA / FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola

Em Julho de 1954 foi criada em Leopoldville a União dos Povosdo Norte de Angola (UPNA) sendo o seu dirigente máximo Holden Roberto, a maioria dos seus quadros e apoiantes eram Bacongos. O objetivo central da UPNA era o de conseguir a independência do reino do Congo, incluindo Cabinda.

Em Dezembro de 1958 após ter participado no congresso dos povos africanos em Acra, Holden Roberto percebe que se torna necessário alargar o âmbito tribal do seu movimento passando o partido a denominar-se União dos Povos de Angola (UPA), transformando-se assim num movimento nacionalista, com maior e melhor organização, recolhendo importantes apoios entre protestantes e em alguns setores católicos.

Com a independência do Congo Belga em 1960, a oposição ao sistema colonial portuguesa radicaliza-se e com o apoio dos EUA a UPA prepara uma ação armada no Norte de Angola.
A 15 de Março de 1961 milhares de guerrilheiros da UPA, na sua maioria Bacongos, lançam um assalto às fazendas do café no Norte de Angola, armados de catanas e de canhangulos, provocando a morte a cerca a mil colonos brancos, bem como a largos milhares de africanos, na sua maioria Bailundos.

A brutalidade desta ação, prejudicaram a luta anticolonial e permitiram ao Governo de Lisboa apresentar aos portugueses as imagens do horror ocorrido e apelar à mobilização para a guerra.

Em Março de 1962 a UPA transforma-se em Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

Devido à sua proximidade com os EUA a FNLA perde apoios do Congo-Brazaville e da Zâmbia. Vai enfrentar várias cisões internas, a maior das quais em 1964, com a saída de Jonas Savimbi e de cerca de uma centena de militantes que irão fundar a UNITA.
Este conjunto de cisões irão, progressivamente, retirar-lhe força militar e capacidade de influência política.

Depois do 25 de Abril de 1974, participa na cimeira do Alvor, em Janeiro de 1975, cujo documento final é subscrito pelo seu presidente.

Com o início da guerra civil em Angola em 1975, a FNLA tenta tomar Luanda tendo-se travado, em Novembro desse ano, a Batalha do Quifangondo, em que o exercito da FNLA, comandado pelo próprio Holden Roberto é derrotado pelas forças do MPLA, que proclamam, logo de seguida a independência de Angola.

A capacidade da FNLA, a partir desta derrota, ficará muito enfraquecida.

Chegada de Holden Roberto à cidade do Huambo, onde é recebido por militares da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), vindo da sua base em Kinshasa para a instalação formal de um governo de coligação FNLA-UNITA. FMSMB / Arquivo Ingeborg Lippman Chegada de Holden Roberto à cidade do Huambo, onde é recebido por militares da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), vindo da sua base em Kinshasa para a instalação formal de um governo de coligação FNLA-UNITA. FMSMB / Arquivo Ingeborg Lippman

Holden Roberto

Nasceu em São Salvador do Congo, junto à fronteira com o então Congo Belga, perto do rio Zaire. Ainda muito novo foi viver com a família para a capital do Estado vizinho, Leopoldville, onde fez os estudos secundários e tornou-se funcionário do Ministério das Finanças Belga.
Inicia a atividade política em Julho de 1954, quando funda a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA), em que a etnia Bacongo era maioritária; quatro anos mais tarde passará a designar-se União dos Povos de Angola (UPA), retirando-lhe a conotação tribal e regionalista.
A 15 de Março de 1961, a UPA lança os seus guerrilheiros num assalto às fazendas de café no Norte de Angola, onde provocam milhares de mortos entre colonos e africanos, iniciando assim a luta armada pela independência.
Em 1962, Holden Roberto cria a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), que sucede à UPA, da qual se torna também presidente. Era primo de Mobutu Sese Seko, com quem manterá sempre uma estreita ligação, político que se iria tornar, a partir de 1965, presidente do Zaire (ex-Congo Belga), país onde se encontravam instaladas as bases do movimento angolano.
A FNLA criou o Governo Revolucionário de Angola no Exílio, onde Jonas Savimbi teve o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, mas com o seu afastamento em 1964, e subsequente criação da UNITA, assim como a hostilidade do Congo-Brazzaville e da Zâmbia, o FNLA foi perdendo a sua força militar inicial.
Após o 25 de Abril, Holden Roberto apresenta-se nos acordos de Alvor com um espaço de manobra reduzido, no entanto será um dos subscritores. Em 1975, já com a guerra civil em curso, o líder independentista tenta tomar Luanda, com apoio zairense e sul-africano, mas as suas forças são derrotadas pelo MPLA, com o apoio de tropas cubanas, na véspera do dia da independência (11 de Novembro). Esta derrota marcará, na prática, o seu declínio político.
Morreu em Luanda a 2 de Agosto de 2007.

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

Em Dezembro de 1956 é fundado o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

O MPLA foi, desde o primeiro momento, uma organização nacional, e ainda que a sua principal base de apoio tenha sido a etnia Mbundo, que se estendia de Luanda a Malanje, contando ainda nos seus quadros elementos da pequena burguesia negra e mestiça e dos sectores operários.

Em 1959 e 1960 o partido sofre um duro revés com a prisão de alguns importantes quadros dirigentes, ficando a liderança do partido entregue a Mário de Andrade e Viriato da Cruz.

Em 1960, após a independência do Congo Belga, o MPLA transfere a sua sede para Kinshasa tentando uma aproximação à UPA sem sucesso.

O MPLA reivindica os ataques à Casa de Reclusão Militar, em Luanda, à Cadeia da 7ª Esquadra da polícia, à sede dos CTT e à Emissora Nacional de Angola que ocorreram a 4 e 9 de Fevereiro de 1961.

Em finais de 1962 Agostinho Neto passa a exercer de facto a presidência do MPLA.

Em 1963 o MPLA é expulso do Congo (ex-Belga) com vastas fronteiras com Angola, indo estabelecer-se no Congo-Brazaville de onde iniciou, a partir de 1964 uma campanha armada contra Cabinda.  Em 1963 o MPLA é reconhecido pela OUA.

Em 1966, com o apoio da Zâmbia que acedera à sua independência em 1964, o MPLA abre a frente Leste onde obtém assinalável êxito territorial e junto das populações. Vai tentar também ligar as suas bases a Leste com as suas bases a Norte ao longo do caminho de ferro de Benguela.

A partir de 1969 começam também confrontos com a UNITA o que irá determinar que a partir de 1971 a capacidade militar do MPLA comece a ceder perante a necessidade de lutar contra dois inimigos, perdendo progressivamente força na Frente Leste.

Após o 25 de Abril de 1974 é declarado o cessar-fogo e os três movimentos (MPLA, FNLA e UNITA) assinam, em janeiro de 1975, os Acordos do Alvor de partilha do poder e transição para a independência.

Os acordos não se viriam a concretizar dando-se uma intervenção militar externa com a entrada em Angola de forças da África do Sul em apoio da UNITA e de Cuba em reforço do MPLA, que entra e domina Luanda.

No dia 11 de novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola pelo MPLA em Luanda, assumindo a presidência Agostinho Neto.

Retrato de Agostinho Neto cedida pela Embaixada de Angola em Portugal. Retrato de Agostinho Neto cedida pela Embaixada de Angola em Portugal.

Agostinho Neto

Agostinho Neto nasceu em Caxicane, Angola a 17 de Setembro de 1922. Filho de um catequista da missão metodista americana, concluiu os seus estudos secundários em Luanda, em 1944.
Ruma a Portugal onde frequenta as Faculdades de Medicina das Universidades de Coimbra e Lisboa.
Em Lisboa, é um dos fundadores da Casa dos Estudantes do Império.
Em 1948 é preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), ficando detido durante três meses.
Após a sua libertação funda clandestinamente com Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Marcelino dos Santos e Francisco José Tenreiro o Centro de Estudos Africanos, que viria a ser encerrada pela PIDE em 1951.
Colabora com a Juventude das Colónias Portuguesas, ligado ao PCP, sendo de novo preso pela PIDE em 1955.
A 10 de Dezembro de 1956 quando é fundado o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Agostinho Neto está preso.
É libertado em 1957, tendo terminado o curso de Medicina em 1958.
Em Dezembro de 1959, regressa a Luanda, onde abre um consultório médico, passando a organizar as atividades políticas do MPLA, assumindo a liderança do movimento nesse ano.
Em Junho de 1960 é preso em Luanda sendo posteriormente deportado para o arquipélago de Cabo Verde, onde permanece até Outubro de 1962. Logo após a libertação é novamente preso, sendo transferido para o Aljube, e libertado em Março de 1963.
Após a libertação permanece em Lisboa até Junho, fugindo para Kinshasa, reassumindo as funções de presidente efetivo do MPLA, e estabelecendo a sede do MPLA em Brazaville. Aí passa a coordenar totalmente o núcleo militar do MPLA, abrindo as frentes de Cabinda (1963) e do Leste de Angola (1966).
Na sequência do 25 de Abril de 1974 é declarado um cessar-fogo. Agostinho Neto regressa a Luanda em 1975, sendo um dos signatários do Acordo do Alvor.
Com oclodir da guerra civil em Março de 1975, assume o comando militar das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, dirigindo a campanha para Conquista de Luanda em Julho de 1975. Após a declaração de independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, Agostinho Neto é proclamado Presidente de Angola.
Agostinho Neto morreu num hospital em Moscovo, a 10 de Setembro de 1979.

#50anos25abril