O esforço para marcar a diferença “liberalizadora” na actividade sindical no período da designada «Primavera Marcelista» introduz mudanças significativas na mobilização dos trabalhadores e na organização dos sindicatos. Embora com avanços e (muitos) recuos, este é um dos aspectos mais significativos do Marcelismo que é reconhecido e aproveitado pelas oposições à ditadura.
A partir de 1969, os sindicatos dirigidos por listas de oposição ao Estado Novo, também designadas «listas anti-corporativas» ou «listas B», cresceram exponencialmente.
Num total de 325 sindicatos, 17 listas B dirigiam os sindicatos em 1969; 27 em 1970; 31 em 1971; 40 em 1972; 44 em 1973; e 48 nos primeiros meses de 1974. Porém, os sindicatos dominados por indefectíveis do regime — as chamadas «listas A» — eram ainda 280 nos primeiros meses de 1974.
Se as «listas B» permaneceram um fenómeno reduzido, o seu crescimento foi consistente e não se alterou durante o Marcelismo, mesmo após 1970, quando o regime inflectiu o que parecia ser uma abertura ao sindicalismo livre.
Apesar de não muito numerosos, os sindicatos dominados por listas anti-corporativas contavam-se entre os mais importantes, quer pelo seu elevado número de sócios (casos dos Caixeiros de Lisboa, dos Metalúrgicos de Lisboa, Porto e Braga, e dos Têxteis de Guimarães), quer pelo lugar estratégico que ocupavam na economia do país (trabalhadores da Carris de Lisboa, carregadores e descarregadores do Porto de Lisboa, e Químicos de Lisboa), quer ainda pelo lugar estratégico e pelo elevado estatuto social dos seus trabalhadores (pessoal de voo, jornalistas, engenheiros e médicos).
As listas anti-corporativas tinham ainda maior peso entre as classes de maior estatuto social, como os serviços, e tendiam a concentrar-se em Lisboa e no Porto, pontuando ainda outros territórios urbanos industriais. Por fim, as «listas B» tiveram uma vitalidade e uma capacidade de mobilização que contrastou, na generalidade, com as das «listas A», cujos membros eram, em regra, mais envelhecidos, habituados a viver na sombra dos delegados do INTP e a recorrer à ferramenta da impugnação para afastar os opositores.
Este dinamismo em torno dos sindicatos acabou também por ter impacto mesmo nas listas favoráveis à ditadura, que procuravam acompanhar o desempenho dos seus opositores.