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Excerto da publicação As Armas do Povo n.1, Junho de 1971. Fonte: Ephemera

MOVIMENTOS E PARTIDOS POLÍTICOS

Mesmo antes da substituição de Salazar, houve direcções sindicais que integravam comunistas. Foi o caso do Sindicato dos Bancários de Lisboa, cuja direcção, liderada por Daniel Cabrita, seria eleita em Março de 1968, ainda que só homologada em Janeiro de 1969, já em pleno Marcelismo.

A reforma sindical do período inicial do Marcelismo potenciou a eleição de militantes comunistas para as direcções dos Sindicatos Nacionais. Apesar de continuar a ser difícil eleger uma direcção totalmente dominada por comunistas, era, no entanto, mais fácil eleger alguns comunistas nas designadas ‘listas de unidade’.

Luta Operária n. 11, suplemento da Folha Comunista, Unidade Revolucionária Marxista-Leninista, Janeiro de 1973. Fonte: ANTT, PIDE-DGS
Resumo da emissão da Rádio Portugal Livre de 17 de Maio de 1972, Serviço de Escuta da Legião Portuguesa. Fonte: ANTT, PIDE-DGS
Caderno Reivindicativo do Portuário de Lisboa, Base Sócio-Profissional dos Portuários da CDE - Comissão Democrática Eleitoral de Lisboa, Outubro de 1973. Fonte: ANTT, PIDE-DGS

Efectivamente, entre 1969 e 1971, algumas dezenas de sindicatos foram conquistados por direcções constituídas por militantes comunistas. Neste período, as direcções são mais heterogéneas, muitas vezes incluindo católicos ou outros elementos de extrema-esquerda. A partir de 1971, tornam-se cada vez mais frequentes as direcções de componente comunista dominante.
A mobilização sindical deste período deve muito também às eleições para a Assembleia Nacional de 26 de Outubro de 1969. A estas eleições candidataram-se a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), onde convergiam sobretudo socialistas, e a Comissão Democrática Eleitoral (CDE), integrada maioritariamente por comunistas.

Dos grupos socio-profissionais da CDE sairiam activistas sindicais de grande relevo, que haveriam de ser responsáveis pelas lutas sindicais que se seguiram. Também aí teriam origem muitos dos quadros especializados, sobretudo economistas e advogados, que viriam a apoiar os sindicatos nas suas diversas lutas, em particular, nas negociações colectivas.
As eleições de 1969 tiveram ainda um outro efeito. Ao exporem o malogro da liberalização do regime, parte dos oposicionistas do regime deslocaram a sua acção para a actividade sindical, que era ainda um espaço de relativa liberdade.

Carga policial no III Congresso da Oposição Democrática, Aveiro, Abril de 1973. Fonte: Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas
Jornal República, 20 de Fevereiro de 1973

A presença da extrema-esquerda nos sindicatos não é tão expressiva quanto a do Partido Comunista Português. Mesmo assim, este grupo participou nas lutas sindicais e tomou posição a favor dos operários em determinados contextos, como é visível nas notícias publicadas no boletim do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado – MRPP A Luta Popular ou no jornal O Grito do Povo, onde se mencionam as principais greves no país.

O dinamismo da acção anti-corporativa nos sindicatos deve ainda ser entendido como um movimento similar ao movimento estudantil. Além disso, com as suas lutas e greves, os estudantes viriam a tornar-se também fonte de recrutamento de futuros sindicalistas proeminentes.

O papel da emigração e do exílio permitiu igualmente divulgar greves e lutas no mundo operário.

O Militante n. 179, boletim do Comité Central do Partido Comunista Português, Abril de 1973. Fonte: Ephemera
“Glória ao Cinquentenário do Partido Comunista Português”, panfleto apreendido nas instalações da Ford Lusitana, Azambuja, em Março de 1971. Fonte: ANTT, PIDE-DGS
Unidade Popular n.17, boletim do Partido Comunista de Portugal (M-L), Julho de 1973. Fonte: ANTT, PIDE-DGS.

#50anos25abril