OS CATÓLICOS E OS SINDICATOS
A participação de organizações católicas no meio sindical intensificou-se em Portugal a partir dos anos 60, e acabaria por desempenhar um papel importante na conquista democrática de vários sindicatos (Bancários, Escritórios e Lanifícios) e no processo de constituição da Intersindical.
O pendor social da doutrina da Igreja tem como principal referência histórica a encíclica Rerum Novarum [Das Coisas Novas]: sobre a condição dos operários (1891). Apontando a necessidade de remediar a “miséria imerecida” das classes trabalhadoras e dignificar o trabalho a partir dos valores cristãos, o documento tornar-se-ia inspiração para muitas organizações de leigos.
É neste contexto que surge em Portugal, em 1933, a Acção Católica Portuguesa, à volta da qual gravitavam diversos organismos especializados, entre os quais a Juventude Operária Católica (JOC) e a Liga Operária Católica (LOC), ambas dedicadas ao mundo do trabalho.
Se, inicialmente, a Acção Católica via em Salazar a oportunidade de restaurar o estatuto da Igreja, em virtude das perseguições da I República, é também no seu seio que surgem as primeiras críticas a esta orientação conservadora e a luta contra as injustiças sociais.
O desalinhamento entre a ditadura e este sector de católicos é reforçado após o Concílio Vaticano II. Em 1964, a partir da LOC, é criado o Centro de Cultura Operária (CCO), que tem como principal dirigente Fernando Moreira de Abreu.
Inicialmente, a acção do CCO centra-se na formação de quadros e na animação socio-cultural, começando a publicar em 1967 os Cadernos de Cultura Operária. O CCO vai envolver-se cada vez mais na actividade sindical directa e na acção política, onde os chamados “católicos progressistas” convivem com militantes de outras áreas ideológicas de esquerda.
Esta nova fase de militância tem como principal suporte o movimento BASE, de actividade semi-clandestina, que irá dinamizar diversas acções de formação sindical, de apoio a lutas operárias, de denúncia das condições de vida dos trabalhadores e de oposição ao regime, incluindo a participação política eleitoral na Comissão Democrática Eleitoral (CDE).
O CCO dará especial atenção ao trabalho das mulheres (em sectores como a indústria conserveira, os lanifícios e o trabalho doméstico) e aos grupos mais desfavorecidos da população.