No final do Estado Novo, a greve continuava a não ser legal, mas também já não era criminalizada nem reprimida pela polícia nos termos em que tinha sido em tempos mais recuados. Quando Marcelo Caetano chegou ao poder e levou a cabo a reforma da legislação sindical, a greve era já um meio reivindicativo eficaz. Disso é prova o facto de, independentemente dos retrocessos políticos do Marcelismo, o número de greves se ter mantido sempre alto.
CARRIS
No dia 1 de Outubro de 1972, os trabalhadores da Carris fazem greve às horas extraordinárias e às dobras. Em Novembro, a Comissão de Trabalhadores apela, mais uma vez, a que não se façam “dobras”.
A politização dos trabalhadores da Carris vai-se acentuando, como é visível no apelo de recusa às horas extraordinárias e às dobras da Unidade Revolucionária Marxista-Leninista para a Aliança dos Operários e Camponeses, instando ainda a que se continue “na cera” e se prepare o caminho para a greve (Luta Operária, n. 11, Janeiro de 1973)
ABELHEIRA
O Grupo de António Champalimaud adquiriu a Fábrica de Papel da Abelheira em 1968, que então atravessava um período de dificuldades financeiras agravadas, nos anos seguintes, devido à escassez de matérias-primas.
No início de 1973, a administração anunciou o encerramento da fábrica, gerando uma onda de protestos e de greves que culminariam com a ocupação das instalações durante seis meses. O despedimento colectivo atingiu mais de 400 trabalhadores.
BANCÁRIOS
Em 1973, realizaram-se inúmeras manifestações de protesto contra as contrapropostas de revisão do Contrato Colectivo de Trabalho apresentadas pelo “Grémio”. As acções de protesto traduziram-se em paralisações do trabalho e em grandes manifestações na Baixa de Lisboa, onde a maioria dos bancos tinha as sedes.
Estas foram sempre reprimidas pela Polícia de Choque, à bastonada e com a utilização de carros equipados com jactos de água e de tinta azul, chegando a entrar nas sedes dos Bancos e nos cafés, espancando brutalmente manifestantes e clientes.
FORD LUSITANA
De 1 a 8 de Março de 1971, os operários da Ford Lusitana fizeram uma greve de braços caídos, reivindicando 8 horas diárias de trabalho, o pagamento do 7.º dia (Domingo), um aumento de 5$00 (cerca de um euro nos valores de hoje) por hora de trabalho e a semana de 40 horas (em vez das 45 a que estavam obrigados).
Segundo o boletim Luta Popular, órgão do MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (n. 2, Março de 1971), na madrugada de dia 8 uma companhia da GNR cercou a fábrica e a PIDE-DGS ocupou os locais de trabalho com o objectivo de identificar, um a um, os trabalhadores. A administração terá então concedido um aumento de 1$50 por hora e os trabalhadores acabaram por desmobilizar.
TAP
No sector dos metalúrgicos, a Direcção eleita em 1970, presidida por António Santos Júnior, promoveu diversas acções de luta que levaram à sua substituição por uma Comissão Administrativa. Mesmo assim, as comissões eleitas em cada local de trabalho continuaram a desenvolver um trabalho sindical activo, o que aconteceu na TAP. Em Julho 1973, no âmbito da discussão de um novo acordo colectivo de trabalho, prevendo-se uma forte participação na assembleia marcada para dia 11 na Voz do Operário, em Lisboa, a reunião foi proibida. Os trabalhadores que nela pretendiam participar foram alvo de uma forte carga policial. Como reacção foi lançada a palavra de ordem: “Todos ao Aeroporto”, tendo nessa noite ocorrido uma primeira concentração. No dia seguinte, as oficinas da TAP pararam numa concentração ainda maior (calculada em 5.000 trabalhadores) foram exigidas explicações à administração da empresa pelos factos ocorridos na véspera.
A polícia de choque, armada com bastões e com pistolas-metralhadoras FBP, entrou nas oficinas da TAP para dissolver a concentração, abrindo fogo e fazendo vários feridos. Nos dias seguintes o conflito intensificou-se. Só em 17 de Julho, após a conclusão de um acordo em sede de comissão arbitral, se regressou ao trabalho.
FERROVIÁRIOS
Ficou para a história o luto ferroviário declarado em 2 de Janeiro de 1969. Os trabalhadores colocaram uma braçadeira negra no braço esquerdo, reivindicando melhores salários e condições assistenciais. A iniciativa, à qual aderiu uma percentagem entre os 60 e os 80 por cento dos ferroviários, resultou num aumento de salários na ordem dos 12 por cento e em melhorias significativas no plano da previdência.
Nos anos que se seguiram, os trabalhadores dos caminhos de ferro continuaram a lutar pela melhoria do seu estatuto. Em 15 Julho de 1971, ferroviários das oficinas da CP do Barreiro voltaram a paralisar, exigindo novamente a melhoria dos salários. Já em 7 Dezembro de 1973, operários das oficinas da CP da Figueira da Foz e do Entroncamento fizeram uma greve de braços caídos, manifestando a sua insatisfação face os magros aumentos salariais previstos para o ano seguinte e ao não pagamento do 13º mês.
SOREFRAME
Pela primeira vez na história da SOREFRAME – Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas (Amadora), de 15 a 17 de Janeiro de 1974 o pessoal da Sorefame abandona o trabalho. Os empregados fabris reclamam um salário mínimo de 6.000$00.
A administração da empresa faz tal responderia a um aumento de 2.100$00, mais de 50 por cento. No comunicado que faz chegar aos funcionários, insinua que tais reivindicações não se coadunam com “o tradicional bom senso dos trabalhadores”, deixando no ar a ideia de que estes agem manietados por forças políticas clandestinas.
SEPSA
Em Janeiro de 1974, os trabalhadores metalúrgicos da Sepsa promovem uma concentração, reclamando que o terceiro feriado a que têm direito pelo Contrato Colectivo de Trabalho seja gozado num dia normal de trabalho.
A 5 de Fevereiro de 1974, o Comité Operário Estaline faz um apelo à greve nos seguintes termos:
EM FRENTE PELA GREVE!
TODOS UNIDOS À HORA DO MEIO-DIA!
UM POR TODOS E TODOS POR UM!
NÃO ÀS COMISSÕES PARA IREM FALAR COM O “DOUTOR” AO GABINETE!
VIVA À GREVE!
ABAIXO A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA!
VIVA OS COMITÉS OPERÁRIOS!