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No final do Estado Novo, a greve continuava a não ser legal, mas também já não era criminalizada nem reprimida pela polícia nos termos em que tinha sido em tempos mais recuados. Quando Marcelo Caetano chegou ao poder e levou a cabo a reforma da legislação sindical, a greve era já um meio reivindicativo eficaz. Disso é prova o facto de, independentemente dos retrocessos políticos do Marcelismo, o número de greves se ter mantido sempre alto.

Jornal Républica, 31 de Novembro de 1973
Comunicado da CDE - Comissão Democrática Eleitoral, Março de 1974. Fonte: Ephemera Tarjeta de trabalhadores da Carris apelando ao boicote às “dobras”, s.d.Fonte: ANTT, PIDE-DGS
Cartaz evocativo de manifestação de bancários na Rua do Ouro, em Lisboa, s.d. Fonte: Colecção Particular Joaquim Matos
Comunicado da CDE - Comissão Democrática Eleitoral, Março de 1974. Fonte: Ephemera

CARRIS

No dia 1 de Outubro de 1972, os trabalhadores da Carris fazem greve às horas extraordinárias e às dobras. Em Novembro, a Comissão de Trabalhadores apela, mais uma vez, a que não se façam “dobras”.
A politização dos trabalhadores da Carris vai-se acentuando, como é visível no apelo de recusa às horas extraordinárias e às dobras da Unidade Revolucionária Marxista-Leninista para a Aliança dos Operários e Camponeses, instando ainda a que se continue “na cera” e se prepare o caminho para a greve (Luta Operária, n. 11, Janeiro de 1973)

ABELHEIRA

O Grupo de António Champalimaud adquiriu a Fábrica de Papel da Abelheira em 1968, que então atravessava um período de dificuldades financeiras agravadas, nos anos seguintes, devido à escassez de matérias-primas.
No início de 1973, a administração anunciou o encerramento da fábrica, gerando uma onda de protestos e de greves que culminariam com a ocupação das instalações durante seis meses. O despedimento colectivo atingiu mais de 400 trabalhadores.

Informação de Chefe de Brigada da PIDE-DGS sobre julgamento de trabalhadores da Carris (Lisboa) por tentativa de greve, 5 de Janeiro de 1971. Fonte: ANTT, PIDE-DGS
Diário de Lisboa, 19 de Janeiro de 1973
Tarjeta da Comissão de Trabalhadores da Carris de apelo ao boicote às “dobras”, Novembro de 1972. Fonte: ANTT, PIDE-DGS

BANCÁRIOS

Em 1973, realizaram-se inúmeras manifestações de protesto contra as contrapropostas de revisão do Contrato Colectivo de Trabalho apresentadas pelo “Grémio”. As acções de protesto traduziram-se em paralisações do trabalho e em grandes manifestações na Baixa de Lisboa, onde a maioria dos bancos tinha as sedes.

Estas foram sempre reprimidas pela Polícia de Choque, à bastonada e com a utilização de carros equipados com jactos de água e de tinta azul, chegando a entrar nas sedes dos Bancos e nos cafés, espancando brutalmente manifestantes e clientes.

Diário de Lisboa, 19 de Junho de 1973
Oficinas da Ford Lusitana, s.d. Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967).Fonte: Biblioteca de Arte Gulbenkian

FORD LUSITANA

De 1 a 8 de Março de 1971, os operários da Ford Lusitana fizeram uma greve de braços caídos, reivindicando 8 horas diárias de trabalho, o pagamento do 7.º dia (Domingo), um aumento de 5$00 (cerca de um euro nos valores de hoje) por hora de trabalho e a semana de 40 horas (em vez das 45 a que estavam obrigados).

Segundo o boletim Luta Popular, órgão do MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (n. 2, Março de 1971), na madrugada de dia 8 uma companhia da GNR cercou a fábrica e a PIDE-DGS ocupou os locais de trabalho com o objectivo de identificar, um a um, os trabalhadores. A administração terá então concedido um aumento de 1$50 por hora e os trabalhadores acabaram por desmobilizar.

TAP

No sector dos metalúrgicos, a Direcção eleita em 1970, presidida por António Santos Júnior, promoveu diversas acções de luta que levaram à sua substituição por uma Comissão Administrativa. Mesmo assim, as comissões eleitas em cada local de trabalho continuaram a desenvolver um trabalho sindical activo, o que aconteceu na TAP. Em Julho 1973, no âmbito da discussão de um novo acordo colectivo de trabalho, prevendo-se uma forte participação na assembleia marcada para dia 11 na Voz do Operário, em Lisboa, a reunião foi proibida. Os trabalhadores que nela pretendiam participar foram alvo de uma forte carga policial. Como reacção foi lançada a palavra de ordem: “Todos ao Aeroporto”, tendo nessa noite ocorrido uma primeira concentração. No dia seguinte, as oficinas da TAP pararam numa concentração ainda maior (calculada em 5.000 trabalhadores) foram exigidas explicações à administração da empresa pelos factos ocorridos na véspera.

A polícia de choque, armada com bastões e com pistolas-metralhadoras FBP, entrou nas oficinas da TAP para dissolver a concentração, abrindo fogo e fazendo vários feridos. Nos dias seguintes o conflito intensificou-se. Só em 17 de Julho, após a conclusão de um acordo em sede de comissão arbitral, se regressou ao trabalho.

Ordem de serviço n.214 do conselho de administração da TAP aos trabalhadores, 17 de Julho de 1973. Fonte: Ephemera
Informação da GNR à PIDE-DGS sobre paralisação de trabalho na CP, 12 de Dezembro de 1973. Fonte: ANTT, PIDE-DGS.

FERROVIÁRIOS

Ficou para a história o luto ferroviário declarado em 2 de Janeiro de 1969. Os trabalhadores colocaram uma braçadeira negra no braço esquerdo, reivindicando melhores salários e condições assistenciais. A iniciativa, à qual aderiu uma percentagem entre os 60 e os 80 por cento dos ferroviários, resultou num aumento de salários na ordem dos 12 por cento e em melhorias significativas no plano da previdência.

Nos anos que se seguiram, os trabalhadores dos caminhos de ferro continuaram a lutar pela melhoria do seu estatuto. Em 15 Julho de 1971, ferroviários das oficinas da CP do Barreiro voltaram a paralisar, exigindo novamente a melhoria dos salários. Já em 7 Dezembro de 1973, operários das oficinas da CP da Figueira da Foz e do Entroncamento fizeram uma greve de braços caídos, manifestando a sua insatisfação face os magros aumentos salariais previstos para o ano seguinte e ao não pagamento do 13º mês.

SOREFRAME

Pela primeira vez na história da SOREFRAME – Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas (Amadora), de 15 a 17 de Janeiro de 1974 o pessoal da Sorefame abandona o trabalho. Os empregados fabris reclamam um salário mínimo de 6.000$00.

A administração da empresa faz tal responderia a um aumento de 2.100$00, mais de 50 por cento. No comunicado que faz chegar aos funcionários, insinua que tais reivindicações não se coadunam com “o tradicional bom senso dos trabalhadores”, deixando no ar a ideia de que estes agem manietados por forças políticas clandestinas.

SEPSA

Em Janeiro de 1974, os trabalhadores metalúrgicos da Sepsa promovem uma concentração, reclamando que o terceiro feriado a que têm direito pelo Contrato Colectivo de Trabalho seja gozado num dia normal de trabalho.

A 5 de Fevereiro de 1974, o Comité Operário Estaline faz um apelo à greve nos seguintes termos:

EM FRENTE PELA GREVE!
TODOS UNIDOS À HORA DO MEIO-DIA!
UM POR TODOS E TODOS POR UM!
NÃO ÀS COMISSÕES PARA IREM FALAR COM O “DOUTOR” AO GABINETE!
VIVA À GREVE!
ABAIXO A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA!
VIVA OS COMITÉS OPERÁRIOS!

#50anos25abril