Quando Marcelo Caetano substituiu Salazar no governo da ditadura, Portugal era um país muito marcado pela ruralidade. A agricultura ocupava ainda 32 por cento da população em 1970.
O país tinha pouco mais de 8 milhões e meio de residentes. Relativamente à década anterior, a população diminuiu em mais de 250 mil habitantes, sobretudo por conta da Guerra Colonial e da emigração.
Em busca de melhores condições de vida, parte da população rural que não emigrou para o estrangeiro deslocou-se para os grandes centros urbanos, como o Porto e, sobretudo, Lisboa. O êxodo rural e o processo de urbanização resultaram também da rápida industrialização e terciarização da economia.
De acordo com o Censo de 1970, quase 30 por cento dos portugueses estavam mal alojados e 21 mil famílias residiam em bairros de lata no distrito de Lisboa. Na sua maioria, estes lares não tinham água canalizada, electricidade ou instalações sanitárias. Na década de 1960, o frigorífico não era acessível à maioria dos cidadãos portugueses. Do mesmo modo, apenas um quarto da população assistia regularmente às emissões de televisão.
No início da década de 1970, Portugal era também um país com uma elevada taxa de analfabetismo (20 por cento entre os homens e 31 por cento entre as mulheres), que se agravava nas zonas rurais. Eram pouquíssimos os portugueses que frequentavam o ensino secundário (2,8 por cento) e ainda menos os que acediam ao ensino superior (1,6 por cento).
Se durante este período se manteve a proibição de partidos políticos — ficando o “pluralismo limitado” circunscrito aos períodos eleitorais, a que se seguiam vagas de repressão —, as alterações no tecido económico do país traduziram-se em mudanças significativas.
A melhoria do acesso à educação e à informação e a participação em novas formas de sociabilidade aumentaram a capacidade de intervenção social e política dos cidadãos.
O número de greves, paralisações, boicotes e manifestações no período do Marcelismo ilustra a combatividade de alguns sectores da população portuguesa.