Na segunda metade dos anos 60 do Século XX, há um processo de radicalização política internacional, motivado pela guerra do Vietname, pela emergência do chamado “Terceiro Mundo”, pela instabilidade social em muitos países da Europa e na América, pelas sucessivas independências em África, pela Revolução Cultural na China, pelo papel crescente dos movimentos estudantis e juvenis, em França, na Alemanha, em Itália e nos EUA, pela invasão da Checoslováquia, e pela crise das hegemonias americana e soviética.
Novas gerações chegam à acção política, com novas ideias e novos temas. As mudanças políticas são acompanhadas de mudanças culturais, com reflexo na criação literária e artística.
Durante quase duas décadas, a vitalidade dos tempos acelerou a “História”. Em Portugal, a ditadura durava desde 1926, com mais de 40 anos sem um dia livre da censura, com proibição de partidos e associações, com perseguições, prisões e assassinatos, com uma guerra colonial sem tréguas.
O Estado, que se proclamava Novo, estava muito “velho”, à beira da morte. E, por muitas barreiras que existissem, os “ventos da História” estavam a chegar a um país pobre, atrasado, com uma elevada mortalidade infantil, analfabeto, onde, do topo à base, o poder era iníquo e injusto.
Abria-se assim uma nova época de protesto, de greves, de reivindicações, de organização e acção legal, semi-ilegal e clandestina, que começara mesmo antes da queda de Salazar e de a ascensão de Marcelo Caetano gerarem o princípio da crise terminal da ditadura.
Mas essa mudança na chefia da ditadura iria levar a um maior enfraquecimento do poder e a um impulso nas lutas sociais, de que o movimento grevista e o “assalto” anti-corporativo aos sindicatos do regime vão ser uma importante expressão. Não é um movimento inteiramente espontâneo – partidos e movimentos clandestinos como o PCP, os “católicos progressistas” e os esquerdistas tiveram um papel fundamental –, mas o “ar do tempo” também contou.
O objectivo deste microsite é documentar esse movimento, grevista, de lutas dos trabalhadores, e de conquista de sindicatos e sua democratização, cuja importância foi muito significativa na queda da ditadura e na construção das novas instituições democráticas.
O movimento militar que fez o 25 de Abril resultou do esgotamento gerado pela Guerra Colonial, mas desenvolveu-se num novo ambiente político, de luta contra a ditadura, em que as lutas operárias, as reivindicações de trabalhadores dos serviços e o sindicalismo livre e democrático tiveram um papel decisivo. O resultado viu-se no dia 25 de Abril de 1974.
O catálogo da exposição Unidos Venceremos! Protesto, Greves e Sindicatos no Marcelismo (1968-1974) já está disponível. Saiba mais e adquira o seu exemplar na livraria do Arquivo Nacional Torre do Tombo ou online, aqui.